Os "três" lados da moeda
Para dar maior dinamismo à história, Call of Duty 2 nos deixa participar dos combates e vivenciar os grandes momentos da guerra pelas perspectivas de três exércitos aliados: russo, inglês e americano. No modo de um jogador, cada um tem sua campanha isolada, sempre contra os nazistas, que juntas somam dez missões.
A primeira é a campanha russa, cujo herói é um soldado chamado Vasili Koslov (não confundir com o famoso atirador russo Vasili Zaitsev). Nela, os combates acontecem dentro das cidades de Moscou e Stalingrado, sempre debaixo de neve forte, em cenários que se baseiam em prédios, ruas, praças e outros elementos urbanos. Alguns dos momentos marcantes desta campanha ficam para quando o jogador deve descobrir o posicionamento de um franco-atirador. Durante a missão, um soldado controlado pelo computador utiliza a técnica de colocar um capacete na ponta de um rifle e levantá-lo, para que o atirador pense que é um soldado inimigo, atire e revele sua posição a outro soldado que observa. Outro momento memorável desta parte acontece quando o jogador é surpreendido pelo inimigo enquanto atravessa o cenário por dentro de um cano. Os tiros vindos de fora perfuram a parede e, num clima bem legal, é possível ver os buracos de bala vazando o ferro e deixando um facho de luz entrar.
A segunda, a campanha inglesa, grande parte dos confrontos ocorrem no deserto africano, com belos cenários noturnos que destacam os efeitos de luz, principalmente aquele vindo do fogo das armas. No comando de um sargento inglês, o jogador passa por momentos intensos em cenários mais abertos, com tiroteios francos, invasões de bunkers, campos minados e muito apoio das cavalarias mecanizada e blindada.
A terceira e última é a campanha americana, jogada na pele de um cabo do destacamento de rangers americano. Seu momento mais intenso é no dia D, quando o exército aliado chega pelo oceano à costa da Normandia para atacar as artilharias situadas no topo do penhasco de Pointe du Hoc. O desembarque das tropas e a escalada do paredão de 30 metros sob forte resistência alemã têm um clima bastante épico e emocionante.
Cada campanha é ambientada em cenários bem distintos e traz objetivos únicos, o que garante que a jogabilidade sempre receba elementos novos e que não se torne repetitiva.
Não pense, soldado, atire
Conforme já mencionado, CoD2 é um tiro em primeira pessoa simples, e que acaba sendo acessível para qualquer tipo de jogador. Não existe algo que vá além dos controles primários de qualquer jogo de ação em primeira pessoa, como mover, mirar, pular, agachar, recarregar, atirar arma principal e arremessar granada. Demais ações são executadas pela tecla F, que é devida indicada sempre que aparecer algo que se possa interagir ¿ troca da armas, utilização de metralhadoras fixas, colocação de explosivos, etc.
Para facilitar ainda mais o que já é simples, a Activision optou em remover o sistema de medidor de saúde vital de CoD2. Como no recém lançado King Kong, à medida que vamos sofrendo danos simultâneos, a tela vai ficando avermelhada e a visão distorcida, até o herói morrer. Para voltar à sua condição plena, é necessário procurar abrigo e aguardar até que o combatente se recomponha. Isso evita que o jogador tenha que ficar pegando e usando kits médicos durante as fases e foque mais no tiroteio em si.
Esta prioridade na ação fica ainda mais evidente pelo fato dos objetos a serem coletados no cenário não passarem de armas deixadas pelos inimigos mortos (salvo raros casos em que devemos pegar objetos para completar a missão) e a quase ausência de objetos para interagir no jogo. Sendo assim, a diversão em CoD2 se resume a eliminar os alemães e completar alguns objetivos simples, sem qualquer preocupação com táticas ou outras frescuras.
Repetição com prazer
Quem já jogou outros jogos baseados na segunda grande guerra vai se deparar com cenários bem familiares. Do norte da África à Rússia, passando pelo desembarque na costa francesa, tudo é um grande déjà vu. Só existe um detalhe sutil que faz a diferença: o design dos mapas.
Como no jogo original, CoD2 tem mapas muito bem feitos, que permitem bons tiroteios e um grau interessante de exploração, sem desviar muito o jogador do caminho correto. E repetitiva tarefa de ficar matando inimigos não se torna tão cansativa, graças à variação das situações e diversidade visual.
O clima da guerra tão bem reproduzido no primeiro jogo volta a ser um destaque em Call of Duty 2. Aviões passam às vezes pelos cenários, barulhos de explosões e tiros acontecem a todo instante e a presença de um grande número de soldados aliados ao lado do herói intensifica o drama do combate. Em todas as missões, vários combatentes controlados pelo computador se juntam ao personagem principal para auxiliá-lo. Eles não recebem ordens ou são indispensáveis no cumprimento dos objetivos: estão ali apenas para compor o clima e dar a sensação de que aquilo é realmente uma guerra entre nações, e não de um homem contra um exército. Por isso não fazem mais do que ajudar um pouco nos tiroteios; gritar, reclamar e balbuciar frases irônicas; ou simplesmente para aumentar a contagem de óbitos no lado aliado.
Sem extravagâncias
Assim como a jogabilidade, a parte técnica de Call of Duty não ousa qualquer extravagância. O visual é competente, mas sem exageros, preocupando-se mais em agradar sem chamar atenção do que proporcionar uma demonstração avançada de física ou um espetáculo pirotécnico de explosões. Alguns pontos negativos ficam para certas texturas com qualidade aquém das demais e a falta de interação com objetos nos cenários ¿ não existem portas para serem abertas e pouquíssimos objetos podem ser destruídos.
No quesito visual, apenas um fator realmente chama atenção: A fumaça. As bombas de fumaça, além de terem um efeito bacana, têm um papel importante na jogabilidade, pois criam um nevoeiro intenso muito útil no deslocamento.
Os efeitos sonoros também são de qualidade. Todos os sons e barulhos são bem feitos, mas faltou um pouco de impacto no estampido das armas, que tende a ser meio leve. O destaque aqui fica para as falas dos soldados aliados, que não param de gritar nos confrontos, nos dão dicas e soltam algumas frases cômicas.
O modo multiplayer de CoD2 também é simples e divertido. A interface é amigável e em questão de segundos, com poucos cliques no mouse, já é possível se conectar a um jogo e desfrutá-lo sem lag. As opções incluem os tradicionais Deathmatch, Team Deathmatch e Capture the Flag, que dispensam comentários, além do Searh-and-Destroy, do primeiro CoD, que é um mata-mata em times com objetivos. A novidade aqui fica para o modo Headquarters, no qual as equipes devem capturar certos locais e fazer ali uma base. À medida que a base vai sendo criada, o time de defesa vai ganhando pontos e o de ataque deve impedir que estes pontos subam. O detalhe é que os membros da equipe de defesa não revivem quando morrem.
Como no modo principal, não existe nada no multiplayer que se destaque frente ao que já vimos, mas tudo é tecnicamente competente e a diversão é certa, sem burocracia.
Call of Duty 2 é um jogo sem grandes pretensões e que não se preocupa em trazer novidades que sejam um diferencial frente aos vários exemplares de tiro em primeira pessoa baseados na Segunda Guerra. Apesar de ser simples demais e trazer uma repetição de tudo aquilo que estamos cansados de ver, ainda é um jogo muito bem apresentado, agradável de jogar e competente em tudo que propõe.
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