Atendo o telefone e escuto as ordens. A missão é fácil, típica: recuperar uma maleta. Antes de pôr mãos à obra, decido me equipar. Vou à loja de armas e compro um colete à prova de bala. E munição, sim. Muita munição para a Uzi e o rifle de precisão. Postado como um franco-atirador profissional, acabo com os capanfas que guardam a porta. Aqueles que não pude eliminar à distância caem com a Uzi Pouco depois posso pegar a maleta, sair com o helicóptero e descer no ponto de aterrissagem. Agora, estou US$ 16 mil mais rico.
O jogo se chama Grand Theft Auto Vice City e a descrição acima é de uma de suas muitas missões. O curioso é que essa mesma fase poderia ter-se passado de forma diferente, escolhendo outro tipo de armas ou buscando mais a infiltração do que a ação direta.
Como o GTA3, este GTAVC oferece precisamente isso: liberdade, infinitas possibilidades de jogo. Enfim, tudo o que se vem destacando desde que o jogo estreou no PlayStation 2 no final de 2002. A versão para PC traz tudo que foi visto no console da Sony. E mais: os acréscimos, como maior resolução de tela, uso do teclado e do mouse ou poder incluir seus próprios mp3 nas emissoras de rádio do carro, não fazem senão melhorar a experiência.
A RockStar segue escrevendo as pautas para a história do videogame, marcando uma rota para o futuro. GTAVC é como GTA3, mas muito melhorado. Bigger and better, diriam os americanos.
Estamos nos anos 80. As pessoas abusam das drogas, dos cosméticos e dos tecidos demasiadamente coloridos. Seu nome é Tommy Vercetti e você terá que levarr sua vida em uma cidade chamada Vice City. Resultam mais que evidentes as referências tomadas pela Rockstar para construir o roteiro deste jogo. Geograficamente, Vice City é uma réplica virtual e malandra de Miami. Cinematograficamente, os desenhistas deram uma boa espiada em Scarface, o filme brutal de Brian de Palma no qual Al Pacino interpretava o mafioso disposto a tudo.
Mas voltemos ao jogo, ao protagonista do jogo, Tommy Vercetti. Porque, Tommy repete, ele mesmo foi encarregado de protagonizar GTA3. Aqui, na Cidade do Vício, Tommy está de volta depois de uma longa temporada na sombra. E seu primeiro negócio sai mal, armam-lhe uma emboscada. A partir daí, ele deverá fazer o possível para limpar seu nome e ir conquistando a cidade pouco a pouco.
Pessoalmente, uma das coisas que adoro, tanto em GTA3 como em GTAVC, é a capacidade para construir personagens memoráveis, para a gente recordar durante muito tempo. E isso não teria nada de mais se a Rockstar não estivesse apenas jogando com lugares-comuns. Porque tanto o roteiro como a caracterização dos personagens no jogo são tão típicas, lidam com tamanha quantidade de clichês que, ao final, você acaba por sentir-se como se estivesse metido em qualquer filme. Jamais o estereótipo, os lugares-comuns, funcionaram tão bem em um videogame.
Bom, mas então GTAVC é um GTA3 disfarçado ou realmente traz algo de novo? As duas coisas. Obviamente a mecânica segue sendo a mesma do jogo anterior, missões e mais missões. E a forma de resolvê-las, como se disse antes, varia na maioria das vezes. Mas a Rockstar introduziu uma série de mudanças que tornam GTAVC melhor que o anterior. Ainda que isso pareça impossível.
Parece mentira, mas a Rockstar levou em conta boa parte das sugestões dos usuários e o resultado é esse: uma nova obra-prima.
As diferenças? Em primeiro lugar, as missões. Vice City é um jogo de fases curtas e contundentes, muito mais breves que as de GTA3. Agora se pode, finalmente, pilotar motocicletas, algo que era pedido desde as primeiras edições do jogo.
Os edifícios já não são apenas parte do cenário. Você pode entrar em muitos deles e até comprá-los. E mais: interagir com as diferentes edificações que povoam Vice City serve para várias coisas, como por exemplo, fazer crescer o seu império criminoso e poder salvar em mais lugares enquanto dura a partida. É dada muito mais importância às missões em, digamos, veículos alheios. Em Vice City, pilotar uma barcaça ou um helicóptero já não é acontecimento exclusivo de um par de fases pontuais.
O que acontece com Vice City é que o jogo, em si mesmo, não inova em absoluto. O que faz é, todavia, algo muito mais complicado: parte de uma base conhecida, de um jogo que já havia sido qualificado como imprescindível, para criar uma obra superior na maioria dos aspectos.
As características próprias da saga permanecem intactas. Permanece essa brutalidade, esse descaramento, essa ânsia de chamar a atenção dos gurus do politicamente correto. Mas vai um passo além. Alguns críticos já o marcaram como "o simulador de crime perfeito". Nós acreditamos que é algo mais: um excesso, puro cinema de mafioso tornado videogame.
Graficamente, se nota que o motor do jogo segue sendo o mesmo, mas os retoques melhoraram o principal erro do jogo anterior: sua falta de fluidez. Já não há aquelas escandalosas diminuições de frames em GTAVC. Um equipamento de qualidade média pode rodar o jogo sem nenhum tipo de problema.
Violência, personagens reconhecíveis para qualquer aficionado por cinema e, sobretudo, uma trilha sonora que inclusive está sendo vendida em uma caixa com sete CDs e que repassa, por alto, o panorama musical da década de 80.
A Rockstar nos fez acreditar no videogame. Outra vez. E isso é o melhor que podemos dizer.
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