Depois das primeiras fases de Hitman: Contracts, o terceiro game dessa série sobre um sujeito parecido com Yul Brynner mas geneticamente modificado para matar vilões, os fãs terão a sensação de um déja-vu.
Apenas quatro anos depois de lançar o original Hitman: Codename 47, a Eidos refez a maioria dos níveis originais num formato mais deprimido e sombrio. O problema dos remakes, no entanto, é que você sempre sabe o que esperar. Você sabe que vai encontrar (e matar) o terrorista alemão Franz Fuchs enquanto ele estiver tomando banho num quarto de hotel quatro estrelas. Você sabe que pode encontrar a bomba que ele criou subindo uma escada num consultório de dentista. Mas mesmo sem o mistério do original, os maiores detalhes e as opções disponíveis em Contracts compensam, de certa forma, a perda.
O apelo da série Hitman sempre foi o seu estilo aberto: sempre houve milhares de maneiras de acabar com os alvos. Você pode entrar escondido e armado apenas com um garrote, disfarçar-se e matar sem levantar suspeitas. Ou então você pode arrombar a porta metralhando tudo que se move até acertar o sujeito certo. A maioria dos níveis oferece inúmeros métodos para se matar os vilões, desde envenenamento até tiro com mira telescópica ou espancamento com taco de golfe.
Em Contracts, as opções para se passar despercebido são ainda maiores. Há diversas maneiras de enganar a polícia, os seguranças, os convidados das festas, além de esconder corpos e limpar cenas do crime.
O enredo de Contracts se passa em algum momento entre o primeiro game e sua seqüência - depois que o agente 47 descobre que faz parte de um exército de clones assassinos (o que acontece ao final do primeiro jogo), mas antes de ele se aposentar e buscar a redenção como o jardineiro de uma igreja italiana (que é o ponto em que começa o segundo capítulo). O protagonista reflete sobre a sua vida, e jogador deve guiá-lo pelos flashbacks.
O jogo traz alguns níveis inéditos. Nosso herói careca precisa se infiltrar num clube de strip-tease para matar um chantagista e recuperar fotos comprometedoras, esgueirar-se para dentro de uma base militar para destruir um submarino armado com "bombas sujas" e resgatar um refém enquanto mata dois homens ricos numa mansão.
Apesar do estilo bem-acabado, Contracts sofre de um excesso de sadismo que não havia nos títulos anteriores. Sim, a série sempre foi sobre um sujeito que mata pessoas para ganhar a vida - mas o novo capítulo leva a brutalidade a um nível que rapidamente se torna de mau gosto.
A primeira fase, que é inédita, acontece num matadouro onde um grotesco personagem chamado The Meat King ("o rei da carne") está promovendo uma festa em meio a carcaças apodrecidas de animais. Você vai lá para matar "o rei" e seu advogado, e resgatar uma garota seqüestrada, mas ela é encontrada desmembrada numa cena repulsiva demais para ser descrita.
Precisava mesmo emplastrar cada porta, cada parede, cada corredor com tanto sangue? Os instrumentos de tortura eram mesmo necessários? Em vez de proporcionar a alegria de matar vilões de mentirinha, a primeira fase chega a incomodar de tão doentia.
As fases seguintes são fáceis de levar, mas ainda há um quê de podreira que não estava lá nas versões anteriores. Por que você precisa envenenar um cavalo inocente na fase da mansão? Se isso não é feito, os ruídos do animal alertam os guardas quando você se aproxima. Esse detalhe maldoso não poderia ter ficado de lado?
Nos games anteriores, sempre havia a possibilidade de matar pessoas inocentes caso o jogador sentisse a necessidade de se comportar como um maníaco. Em vez de tornar isso uma opção, Contracts parece transformar a morte de inocentes em diversão. Pode parecer hipocrisia, mas não é como o Agente 47 costumava ser.
Hitman: Contracts está disponível para PlayStation 2, Xbox e PC.